Como investir em um negócio, sem virar sócio?

Algumas semanas atrás um dos primeiros clientes do escritório nos procurou novamente. Ele notou que um colega fundou uma empresa de marketing digital, e estava tendo um sucesso bacana no negócio.

Esse colega claramente precisava de ajuda em algumas questões comerciais e principalmente investimento financeiro.

Nosso cliente percebeu então, que ali existia uma oportunidade de investir algum dinheiro e conhecimento, para futuramente ter retorno financeiro.

Esse cliente já é um empresário, já tem seu negócio próprio, que toma praticamente todo o seu tempo.

Ele não poderia e nem queria entrar de cabeça nesse novo empreendimento, porque faltava tempo e por que não gostaria de ter que se preocupar com algumas questões que podem acontecer em uma empresa, como: impostos, ações judiciais, parte operacional do negócio, etc.

A ideia era auxiliar em algumas coisas mais sensíveis, dando um direcionamento ao colega fundador da empresa, e principalmente, colocar dinheiro para crescer o negócio.

Então a dúvida dele era a seguinte: como ele poderia investir nessa empresa, sem se tornar sócio, evitando que ele ou seu negócio principal fossem responsabilizados por algum problema? Qual a melhor forma jurídica para formalizar um negócio desses?

É a verdade é que existem VÁRIAS formas de fazer isso e a escolha depende muito do caso concreto.

Uma das maneiras que tem sido mais recorrentes nos últimos meses e anos, é o chamado “mútuo conversível”, que explicaremos agora!

O QUE É O MÚTUO CONVERSÍVEL?

Esse modelo de investimento tem sido muito usado por investidores e startups em fase inicial, mas pode ser usado em outros tipos de empresa, a depender da situação.

O mútuo conversível nada mais é que o empréstimo de dinheiro (mútuo) por um investidor que tem a grana, a uma empresa, com a possibilidade de no futuro, ele reverter esse empréstimo em participação na sociedade (tornando-se sócio) ou só pegar seu dinheiro de volta, com correção e juros.

Esse negócio é muito interessante para ambas as partes.

Para o investidor, porque (i) tem a possibilidade de participar de um negócio promissor, com um bom lucro caso a empresa seja bem sucedida e; (ii) não assume os riscos jurídicos de se tornar sócio.

Já para a empresa, porque (i) consegue levantar um dinheiro para o negócio, sem burocratizar demais a estrutura; (ii) não precisa colocar um sócio na empresa, perdendo o poder de decisão, ou seja, continua livre para tocar o negócio.

Parece a 8ª maravilha do mundo, certo? Mas vamos com calma…

OS RISCOS DO MÚTUO CONVERSÍVEL PARA AS PARTES

Como nem tudo são flores no mundo do empreendedorismo, é claro que o mútuo conversível tem também seus problemas.

Para o investidor

Vamos supor que o investidor coloque o dinheiro na empresa e no final das contas ela não dê certo. Teoricamente, ele poderia reaver o dinheiro que emprestou, certo? Sem riscos!

Não é bem assim…

Se a empresa não teve sucesso, quem garante ao investidor que ela vai ter como devolver o dinheiro? Na verdade, é muito difícil que isso aconteça.

Esse é o principal risco para o investidor. Perder todo o dinheiro investido.

Para os sócios fundadores

Para os sócios, também existem riscos.

Quando o contrato é feito entre as partes, é comum estabelecer um valor para as futuras ações da empresa, estabelecendo também qual será a participação em % do sócio investidor.

Esse valor futuro é uma estimativa. Não é possível prever como a sociedade estará daqui 1 ou 2 anos.

A avaliação das ações pode tornar-se um conflito entre os sócios fundadores e o investidor.

Além disso, um dos riscos mais relevantes do mútuo conversível é a possibilidade de conversão prematura em ações da empresa.

Isso pode acontecer quando a empresa alcança um marco pré-determinado, como um financiamento ou a sua venda para terceiros, que aciona a conversão automática.

Essa conversão prematura pode ser prejudicial para a empresa, uma vez que pode diluir a participação dos acionistas existentes e resultar em uma distribuição desigual de controle e poder de voto.

Existem ainda vários outros problemas que podem surgir em um contrato desta natureza. É imprescindível estabelecer cláusulas muito claras, que prevejam quase toda e qualquer situação.

CONCLUSÃO

O mútuo conversível é uma modalidade de contrato que oferece tanto benefícios quanto riscos para as partes envolvidas. Embora seja uma opção atrativa para empresas em busca de financiamento, e investidores em busca de lucro, é essencial ter uma compreensão clara dos principais riscos associados a esse tipo de acordo.

Ao adotar uma abordagem cautelosa e buscar orientação jurídica especializada, as partes podem minimizar os riscos e aumentar a transparência, estabelecendo uma base sólida para o sucesso do mútuo conversível.

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